11.1.09

Filmes europeus: a redenção!

Ontem assisti ao filme "O Silêncio de Lorna", de produção conjunta [Bélgica, França, Alemanha e Itália], lançado no ano passado. Apesar de ter lido boas referências sobre os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne [direção, roteiro e produção do filme aqui abordado], acho que ficam alguns vazios no filme.

Li que gostam de filmar ao estilo naturalista, sem sonoplastia criadas [sons oriundos do "universo" espacial dos personagens], uso de cenas e situações cotidianas [o que me agrada, pois permite uma maior identificação com os personagens]. Apesar da simpatia com as técnicas utilizadas, acho que a película fica em dívida com o espectador ao negar-lhe uma relação mais suave na fluência da história. O momento da entrega da protagonista da história, a albanesa Lorna, a seu marido, o aparentemente ex-viciado Claudy [vale lembrar que o casamento entre eles foi forjado para que Lorna obtivesse a cidadania belga], quando todo o comportamento anterior dela e a própria relação que tinha com Claudy parece ser apenas de uma difícil tolerância.

A morte de Claudy foi outro momento que poderia ter sido melhor explorado pelos cineastas, até para justificar a alteração de comportamento da apática Lorna. A notícia chega a nós, espectadores, de forma muito distante [o que acabamos por transferir inevitavelmente para Lorna].

Por fim, para fechar o vazio que significou o filme, a história fica num aberto que nem te permite imaginar o que pode ocorrer. Isto até pode ser um trunfo em alguns filmes, mas neste fica a incômoda sensação de interrupção abrupta de uma história, de uma personagem que nem bem sabemos que tipo de ação pode tomar.

Nâo fosse pela bela companhia, diria que não foi uma boa opção para o meu sagrado sábado.

Não recomendo [mas sei como são os fãs de cinema alternativo/europeu :)))]

Ficha técnica:

Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Roteiro:
Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Elenco: Arta Dobroshi (Lorna), Jérémie Renier (Claudy), Fabrizio Rongione (Fabio), Alban Ukaj (Sokol)

Mas é como sempre digo: "nada como um dia após ou outro"

No domingo me proporcionei um prazer indescritível ao assistir um daqueles filmes que mexem com algo em você, lá dentro: "A Vida dos Outros".

Este belo filme de produção alemã e lançado em 2006 fala da história de um oficial da Alemanha Oriental, Gerd Wiesler, fiel ao regime socialista, que investiga e mostra grande conhecimento de como obter informações sobre suspeitos de não simpatizarem com o Estado socialista ou com os cidadãos subversivos.

Ao ir assistir a uma peça de um aclamado dramaturgo alemão, Georg Dreyman, junto com outros membros do Comitê Central, para ver se autorizam a sua exibição, ele suspeita do referido dramaturgo e diz que acredita que ele deva ser monitorado. Vale lembrar que o governo busca ser onipresente e onisciente na vida dos cidadãos, buscando saber tudo a respeito de cada um deles, principalmente dos que são tidos como suspeitos.

A investigação sobre os passos cabe ao mesmo Wiesler, que atua com outro companheiro, fazendo relatórios diários de tudo que escutam. Mas o "contato" diário com o dramaturgo, a sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland, e outros artista, começam a fazer com que Wiesler veja a tentativa do sistema de calar vozes tão humanas e de ideais tão nobres de outra forma.

Sob o anonimato que busca preservar, tenta de alguma forma contribuir para que eles não sejam silenciados ou sofram os rigores que o estado socialista alemão possam lhes impor.

As seqüências [poxa, eu adoro as tremas e ainda não consegui me livrar delas :((] desta bela película são de uma beleza difícil de transpor aqui. Alguns diálogos, com o momento em que Christa-Maria fala para Dreyman que ele dorme com o 'eles', fazendo alusão à inércia crítica do dramaturgo [nota: isto ocorre no momento em que ele diz saber que ela estava transando com o Ministro do Estado].

Bem, apesar de ter falado algumas coisas sobre o filme, o que achei incrível é como um filme como este parece reacender em mim um fio de esperança [eu que ando tão descrente ultimamente] de que sempre é possível fazer algo para mudar aquilo que não gostamos dentro de um sistema opressor. Ainda que sejam pequenas contribuições anônimas, como as feitas pelo belo personagem Wiesler.

Eu, que no dia anterior enalteci o cinema estadunidense como a Meca do cinema, afirmo: eles sabem fazem ótimos filmes [e também péssimos], mas, diferente do que havia pensado no dia anterior, alguns lugares do mundo nos proporcionam excepcionais momentos, como o que experimentei nesta manhã. Viva a boa e velha sétima arte [neste momento da minha vida, creio que é a arte que mais aprecio, superando a antes imbatível música]

Como li numa comunidade do orkut: "Um filme que não morre nunca". Um dos melhores filmes que já assisti na minha vida [ou que mais mexeram comigo].

Tomo a ousadia de reproduzir a experiência de uma pessoa que foi assistir ao filme [retirada de uma comunidade no orkut]:

"Dizem que aplaudir o filme no cinema é brega, pelo menos nas grandes cidades. Pois não é que em pleno Espaço Unibanco, de gente interessada e habituada ao cinema, o público da sala cheia abandonou a etiqueta e o aplaudiu sem hesitação? E batiam forte, batiam como se fosse uma peça de teatro terminada agora mesmo, assoviavam, o diretor estava ali? E o mais curioso: o filme termina tão redondo que nada mais era pra ser dito. Metade da sala se levantou pra aplaudir ao mesmo tempo, imediatamente após a última imagem começar a escurecer. ANtes de ficar toda a tela preta todos estavam de pé. Ou eles já tinham visto o filme, ou o filme é tão bom que ele passa o THE END apenas pelo ritmo filmado. É perfeito, nunca tive essa experiência antes."

Ficha técnica:

Título Original: Das Leben der Anderen
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 137 minutos

Ano de Lançamento (Alemanha): 2006

Elenco:
Martina Gedeck (Christa-Maria Sieland)
Ulrich Mühe (Gerd Wiesler)
Sebastian Koch (Georg Dreyman)
Ulrich Tukur (Anton Grubitz)
Thomas Thieme (Ministro Bruno Hempf)
Hans-Uwe Bauer (Paul Hauser)
Volkmar Kleinert (Albert Jerska


RECOMENDADÍSSIMO!