9.11.05

Ensaio sobre a morte


bem, como já estou ficando craque na arte de "roubar" posts nos blogs e sites alheios (vide a minha última postagem sobre a diferença entre os formatos widescreen e tela cheia, cujas informações foram retiradas do blog URGE, do amigo Luciano), venho com mais um trabalho alheio a rechear este humilde blog. Trata-se, desta vez, do mais novo livro de Saramago "As Intermitências da Morte".

Eu, que há pouco tempo, como é possível observar nas minhas primeiras postagens, li o magnífico "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", anseio desde já pela leitura desta próxima obra que, creio, ser também fascinante.

Abaixo reproduzo trechos do que li no site Speculum acerca do livro:

"Quando lançou [Saramago] Ensaio sobre a Cegueira pensou 'e se fôssemos todos cegos?'. Partindo da mesma idéia imaginou 'e se não morrêssemos?' - daí divagou sobre a condição humana e seu desejo utópico da vida eterna. Por trás de uma nação começa a idealizar a ausência da morte por um período de sete meses. O que no começo é êxtase e euforia, posteriormente torna-se insustentável e impossível de conviver. As outras nações vêem um plano secreto de alguém que descobriu o elixir da vida. Mas, ao pensar melhor, percebem o quão catastrófica a situação é.

Previdência Social, casas de repouso, a Igreja Católica, as seguradoras, os serviços fúnebres e até a máphia (com pê agá mesmo que é para distinguir da original, como destaca o autor), são alguns dos círculos que Saramago aborda para demonstrar o caos instalado dentre as pessoas por ausência da morte. Passado o período de “férias” a morte volta e numa tacada só leva os tidos 'em suspensão'. Mais de 60 mil morrem num acerto de contas da morte. E a única certeza humana ganha nova forma: cartas são endereçadas aos futuros defuntos para que encarreguem-se de pagar suas dívidas, fazer testamento, despedir-se dos amigos e parentes e até, pedir-lhes perdão.

Diante das considerações e do caos humano um romance surreal é desenhado. A morte por equívoco não enviada na data correta a carta a um violoncelista que deveria morrer aos 49 anos. Na data em que ele completa 50 anos, a figura esquelética se dá conta através de seu arquivo (sim, a morte tem um arquivo) e tenta retificá-lo. A curiosidade em saber quem era o humano que lhe escapara das mãos, digo, ossos e gadanha, a faz aproximar-se do violoncelista.

Corre-se uma trama mais suave e romanceada, transpondo a pensata ensaísta que abriu o livro. A narrativa corre solta, entre o impossível e o possível; entre diálogos de humor refinado. A morte aparece elegante e atraente do que qualquer ser humano poderia supor e a relação entre ela e o violoncelista beira a comédia. O final imprevisível é mais um daqueles que o leitor se põe a pensar ‘quem diabos esse escritor pensa que é?’. Não há como não rever o livro de memória e pensar 'impossível!'. E, mesmo que não confesse, talvez seja isso mesmo que ele quer que o leitor pense."

E por fim um trecho do livro retirado do site Observatório da Imprensa:

"Eram três horas da madrugada quando o cardeal teve de ser levado a correr ao hospital com um ataque de apendicite aguda que obrigou a uma imediata intervenção cirúrgica. Antes de ser sugado pelo túnel da anestesia, naquele instante veloz que precede a perda total da consciência, pensou o que tantos outros têm pensado, que poderia vir a morrer durante a operação, depois lembrou-se de que tal já não era possível, e, finalmente, num último lampejo de lucidez, ainda lhe passou pela mente a ideia de que se, apesar de tudo, morresse mesmo, isso significaria que teria, paradoxalmente, vencido a morte. Arrebatado por uma irresistível ânsia sacrificial ia implorar a deus que o matasse, mas já não foi a tempo de pôr as palavras na sua ordem. A anestesia poupou-o ao supremo sacrilégio de querer transferir os poderes da morte para um deus mais geralmente conhecido como dador da vida."

Não sei vocês, mas eu estou louco para colocar as mãos nesta obra do genial Saramago.

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