18.7.06

Bolsa-família, cotas e soluções!

Há alguns dias, ao chegar na universidade deparo-me com uma acalorada discussão a respeito de preconceito racial. Vivo em Lauro de Freitas [Região Metropolitana de Salvador] e trabalho na capital baiana, cidade que tem um altíssimo contingente de negros e pardos.
Lembro que quando comecei a cursar Administração, nos idos de 2.001, na Uneb/Salvador [hoje curso Direito na Uneb/Camaçari], de uma turma de 40 alunos, apenas 2 eram negros[!!!] Percebe-se uma clara distorção nisto!

Daí entendo o porquê das cotas nas universidades públicas: a necessidade de dar a oportunidade de mudança/ascenção social àqueles que teriam bem mais dificuldades de conseguir promover estas mudanças por outras formas que não as que hoje estão estabelecidas. Entendo que os negros/pardos busquem a afirmação da sua cultura e, mais ainda, da sua dignidade que reside no próprio orgulho de se afirmar como negro [ou pardo] sem ser olhado de forma diferenciada [negativamente] pela minoria branca [no caso específico de Salvador].

Daí me vem alguns questionamentos, tais como:
  1. o negro/pardo não entra na universidade por causa da sua etnia? Ouso tentar responder de pronto: NÃO!
  2. se o intuito é a correção de uma distorção social o que dizer da exclusão que será causada aos brancos [pobres] que vivem a mesma realidade que a maioria empobrecida da população negra, uma vez que eles vêem as suas possibilidades de transformação sócio-econômico-cultural mais reduzidas ainda?
Que existe no nosso país um preconceito velado, não tenho dúvida. Sempre que converso com as pessoas acerca do tema, vejo de uma forma muito comum o seguinte chavão: "o maior racista é o próprio negro" [ou qualquer coisa que se assemelhe a isto] num escapismo fácil, como que tentando justificar uma postura de que se alguns deles são, porque eu não deveria ou poderia ser.

Quanto a outros programas assistenciais, até busco entender quando o governo Lula promove o "repasse" de verbas públicas para as camadas menos abastadas da população no "maior programa de transferência de renda" já feito no Brasil! A fome urge e talvez aquilo faça a diferença entre sobreviver ou morrer para muitas pessoas.

Bem, agora vamos às polêmicas:

Eu entendo, mas não concordo com a política de cotas da forma como ela foi implementada, porque não percebo uma iniciativa por parte do governo em buscar as causas dos problemas por nós vivenciados: a falta de uma boa educação de nível fundamental e de nível médio. Isto significa que teremos de conviver indefinidamente com esta situação! Além do que só se mudará a situação daqueles que tiverem acesso ao ensino superior; no mais continuaremos a ter mais e mais analfabetos funcionais, graças a dilapidação do nosso ensino público [exceção feita às universidades - não que o governo não venha se esforçando para isto também].

Discordo de forma veemente dos assistencialismo governamentais, quando os mesmos não permitem a mudança de uma perspectiva! Outro engodo é o bolsa-família, ou alguém acha que um valor máximo de R$ 95,00 por família será capaz de reverter qualquer situação precária em que se encontre aqueles que, em tese, dependem desta verba! Não posso ser insensível e, como já afirmei acima, sei que este valor pode ser a diferença entre mais alguns dias de vida ou a morte para alguns... mas eles terão apenas isto: a sobrevida!

Acho que esta forma se trata de um escapismo fácil do governo, querendo nos fazer acreditar que ele tem feito a sua parte, relegando à miséria e a reprodução dela de uma parcela considerável da população!

Agora, vem a contradição: se me perguntarem se acho que o governo deve cortar de pronto estas medidas, direi, categoricamente, que NÃO! Só acho que o Estado deveria buscar, concomitantemente, soluções definitivas, numa discussão mais aberta com os mais diversos segmentos sociais. Faria uma ressalva quanto às cotas que não acho que deva ser para os afrodescentes e sim para os alunos da rede pública, sem perder de vista a necessidade da melhoria deste mesmo ensino, com a fixação de uma meta e o desaparecimento do sistema quando da consecução do objetivo estabelecido.

Alguém que se declare como branco e se declare como tal, não poderia prestar o vestibular da Uneb [instituição na qual faço um curso de graduação] porque as cotas são direcionadas para os afrodescentes, mesmo que preencha os requisitos. E a verdade é que até hoje não sei exatamente o que é ser afrodescendente?? É ser um praticante/apreciador da cultura de influência africana? É ter cor de pele negra/parda?

Se o nosso governo [e não me refiro somente ao atual] buscasse o cumprimento das suas funções sociais [elencadas na nossa Carta Magna] e oferecesse dignamente o mínimo que se espera dele talvez tais medidas não fossem necessárias!

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